Anafre recorre ao Provedor contra parecer sobre 35 horas
A Associação Nacional de Freguesias (Anafre) solicitou ao Provedor de Justiça que promova a fiscalização sucessiva da constitucionalidade da obrigação do Governo participar na negociação dos Acordos Coletivos de Entidade Empregadora Pública (ACEEP), foi hoje anunciado.
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País Justiça
"Se já eramos contra a homologação dos ACEEP ter de ser feita por um membro do Governo, por interferir com a autonomia do poder local, ainda discordamos mais de essa intervenção existir numa fase inicial de negociação do acordo", explicou à agência Lusa o presidente do conselho diretivo da Anafre, Pedro Cegonho (PS).
A associação pretende que o Provedor de Justiça solicite ao Tribunal Constitucional a fiscalização de um parecer do conselho consultivo da Procuradoria-Geral da República (PGR), sobre a aplicação das 35 horas semanais nas autarquias.
O Ministério das Finanças anunciou, no final de setembro, que homologou o parecer da PGR que reconhece legitimidade aos membros do Governo das áreas das Finanças e da Administração Pública para a celebração de ACEEP "em conjunto com as autarquias locais, devendo a sua atuação ser conjunta e articulada durante todas as fases da negociação".
O parecer referiu que a intervenção não se pode traduzir "na emissão de ordens ou diretivas às autarquias", mas o Governo assumiu levar em conta, na negociação, "objetivos globais e individuais de equilíbrio financeiro das autarquias" e medidas que evitem o agravamento da massa salarial (incluindo horas extraordinárias).
A Anafre defendeu hoje, em comunicado, a fiscalização constitucional da interpretação que o parecer da PGR faz do artigo 347.º do Regime do Contrato de Trabalho em Funções Públicas e do artigo 364.º da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas.
A associação reiterou a sua posição de 28 de março, "sublinhando a autonomia local no que diz respeito à negociação e celebração de acordos coletivos de trabalho e rejeitando liminarmente qualquer ingerência do Governo".
Pedro Cegonho salientou que o parecer da PGR, quando reconhece que o Governo não pode dar orientações às autarquias, na fase de negociação, assume que não pode ser questionada a autonomia do poder local consagrada na Constituição Portuguesa.
Para o presidente da Anafre "não faz qualquer sentido" que se pretenda pôr em causa a legitimidade conferida às autarquias para negociarem com os sindicatos, nomeadamente na manutenção das 35 horas semanais, em vez das 40 previstas na lei aprovada pelo Governo.
A direção da Anafre vai ainda solicitar a um constitucionalista de reconhecido mérito um parecer sobre esta matéria, anunciou o comunicado da associação.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL), foram assinados mais de 400 acordos, que aguardam homologação do Governo.
O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa (PS), também anunciou, a 16 de outubro, que ia pedir ao Provedor de Justiça para promover a declaração de inconstitucionalidade do parecer da PGR sobre a aplicação das 35 horas de trabalho semanais.
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