As 'guerras' de Salgado que ditaram a queda da família
A queda de Ricardo Salgado pode ter começado já há alguns anos mas foi ontem, com a sua detenção e acusação formal, que se sublinhou o fim de um capítulo num dos maiores bancos portugueses. A história, essa, estará ainda no começo, com o Grupo Espírito Santo na berlinda e atravessar aquele que será, talvez, um dos períodos mais conturbados da sua existência. Reveja alguns pontos cruciais no desvelar deste escândalo financeiro, reunidos pelo Diário Económico.
© Reuters
Economia Espírito Santo
Se foi em 2008 que começou a grande crise financeira no mundo ocidental, só em 2011 ficou formalizada em Portugal, com pedido de ajuda económica e financeira feito ainda pelo Executivo de José Sócrates e encaminhado pelo de Pedro Passos Coelho.
Foi nesta altura que várias instituições financeiras formalizaram, também, pedidos de recapitalização ao Estado mas o Banco Espírito Santo não foi um desses bancos. O BES continuou bem visto nos mercados porque conseguiu reforçar os seus fundos próprios sem recorrer a dinheiros públicos. Um dos pecados capitais de Salgado estará precisamente aqui, nos meios encontrados para garantir estes fundos.
Quando, em 2012, explodiu o caso ‘Monte Branco’ [investigação das autoridades a branqueamento de capitais e fuga ao fisco envolvendo uma conhecida gestora de fortunas], Salgado foi ouvido no processo mas o Ministério Público adiantou, mais tarde, que o então CEO do BES não era suspeito no caso. No entanto, já nesta altura, teve que ‘largar’ 4,3 milhões para regularizar impostos.
Os problemas mais sérios vieram em dois tempos: no primeiro, está a guerra que Salgado comprou com Álvaro Sobrinho, CEO do BES Angola, e no segundo, a que comprou com Pedro Queiroz Pereira, da Semapa, pondo um ponto final numa aliança histórica entre os dois grupos.
O antigo líder do BES ficou a perder com essas duas ‘guerras’, Queiroz Pereira até foi quem entregou, em 2013, documentos alegadamente incriminatórios do BES ao Banco de Portugal (BdP).
José Maria Ricciardi é o nome de uma outra ‘guerra’, a interna, no seio da família Espírito Santo, ligada à sucessão na comissão executiva do BES. Salgado queria ser sucedido por alguém da sua confiança e Ricciardi queria mudança, de preferência uma que o incluísse. Os primos ficaram os dois pelas pretensões, quando o BdP determinou o afastamento da família da gestão do Banco.
A somar-se às crises no seio do grupo, vieram as irregularidades no BES. A auditoria feita pelo BdP revelou “irregularidades nas contas” e uma “situação financeira grave”. Nessa senda, tudo caiu como um castelo de cartas, a Espírito Santo Financial Group (ESFG), a ESI e a Rioforte.
Do lado do BES Angola, as coisas não estão melhores. Recebeu uma garantia milionário do Estado angolano assinada pelo próprio presidente, de acordo com o semanário Expresso, mas a carteira de créditos do banco é como que ‘fantasma’, não há garantias ou colaterais.
Com estes desenvolvimentos, chegou então, ontem de manhã, a detenção de Ricardo Salgado, pouco tempo depois de se ter afastado das suas funções à frente do BES. Foi constituído arguido no processo 'Monte Branco' e foi interrogado mas pagou a caução de 3 milhões de euros saindo, poucas horas depois, em liberdade.
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