Clotilde Madeira vive há 39 anos em Campo de Ourique e assistiu às várias fases do mercado. A última remodelação terminou em novembro do ano passado, quando se aliou o moderno ao tradicional, juntando os restaurantes e as bancas dos legumes, do peixe e da fruta, tal como aconteceu no mercado de San Miguel, em Madrid, Espanha.

Segundo a também representante da Associação de Comerciantes de Campo de Ourique, isto levou "muito mais gente, mais animação e mais movimento" para o bairro.

A opinião é partilhada por Vanessa Santos, filha do proprietário de uma sapataria situada na Rua Francisco Metrass.

Rui Pimenta, de um café localizado na mesma rua, adiantou que "há mais jovens" a circular na zona, que já estava envelhecida. Quanto ao mercado, explicou que trouxe impactos positivos para o negócio: algumas das pessoas que o frequentam vão à sua pastelaria "à procura de bolos".

A representante de uma loja de tecidos situada em frente ao mercado, Maria Lino, sublinhou que vai "muita gente de São Bento e de outras zonas" de Lisboa ao mercado, o que não acontecia. Isso levou a uma "visibilidade completamente diferente" da sua atividade.

Porém, Cristina Caldeira, dona de uma loja de roupa interior, contou que não sente "diferença nenhuma" no seu negócio, sendo que a sua clientela é fixa e anterior à remodelação do mercado.

Noutra zona da cidade, no Cais do Sodré, foi recentemente remodelado o Mercado da Ribeira, que conta atualmente com um espaço de restaurantes 'gourmet' e outro com bancas tradicionais, ambos inaugurados em maio.

Haverá uma terceira zona no piso superior do mercado, com discoteca, que deverá abrir em setembro. Apesar de ser cedo para fazer um balanço, alguns comerciantes já garantem que a zona melhorou.

O proprietário de uma mercearia na Rua Ribeira Nova, Pedro Tavares, afirmou que o mercado é uma "lufada de ar fresco" na zona.

Adão Alberto tem um restaurante ali perto e indicou que tem "trabalhado melhor" nos últimos meses, porque "a malta que vai ali [ao mercado] e não gosta daquela comida" recorre ao seu estabelecimento, de comida tipicamente portuguesa.

Júlio Pinto, proprietário de um café junto à Avenida Infante Santo, referiu, por seu turno, que o mercado "prejudicou" o seu negócio: "Os estrangeiros paravam aqui e agora já não, vão logo para o mercado. Estamos sempre às moscas", lamentou.

Os presidentes das juntas de freguesia de Campo de Ourique, Pedro Cegonho, e da Misericórdia, Carla Madeira, subscrevem as vantagens.

Contudo, há coisas a melhorar, como os transportes e o estacionamento. Pedro Cegonho referiu que, apesar de Campo de Ourique ter vários autocarros e elétricos, "fazem falta pequenos autocarros que possam circular dentro do bairro", servindo "de interface entre as ruas e o metro do Rato".

Já Carla Madeira assinalou que os residentes têm dificuldades em colocar o carro naquele local, pelo que a junta está a estudar "uma forma de sinalizar as ruas com uso exclusivo para moradores".

A possível competição existente entre ambos é refutada pelo presidente da junta de Campo de Ourique. "Acho que Lisboa tem público para os dois géneros de mercado. Se por um lado o Mercado da Ribeira está virado para um público mais jovem, que faz a continuação da noite no Bairro Alto ou no Cais do Sodré, o Mercado de Campo de Ourique está vocacionado para todas as idades", concluiu Pedro Cegonho.