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Miguel Gomes quis opor boa ficção à "má ficção que é a mentira"

O realizador Miguel Gomes disse hoje que quis, com "As Mil e Uma Noites", contrapor a boa ficção ao que considera a "má ficção que é a mentira dos políticos que fazem de conta que está tudo bem".

Miguel Gomes quis opor boa ficção à "má ficção que é a mentira"
Notícias ao Minuto

18:37 - 05/07/15 por Lusa

Cultura Realizador

Numa entrevista à Lusa feita horas antes da antestreia nacional do terceiro e último volume do filme e no dia seguinte às primeiras exibições em Portugal dos dois primeiros tomos no âmbito do 23.º festival internacional Curtas de Vila do Conde, Miguel Gomes afirmou que uma das razões que o levaram a criar este filme foi "querer fazer um filme em que a ficção é muito assumida e é quase delirante".

"Para contrapor à má ficção que é a mentira dos políticos que fazem de conta de que tudo está bem. E essa é a má ficção porque é a ficção que se finge real, que se tenta passar pela real. A boa ficção só pode ser a ficção que se assume como ficção, não quer mentir", disse o realizador do filme que inclui histórias como a dos "Homens de Pau Feito", na qual são retratadas as negociações do Governo com a 'troika', com um afrodisíaco pelo meio.

O realizador português sublinhou que esta "boa ficção" frisa que as histórias que conta são impossíveis, mas com as quais "é possível estabelecer uma relação com estas coisas inacreditáveis [que se sabe] não terem lugar na vida real", ainda que digam algo sobre a sociedade em que se vive.

"É útil nestes momentos contrapor à má ficção que é a mentira a ficção que é o inacreditável, as histórias e o poder que as histórias têm para nos mobilizar, nos comover e nos contar coisas de outras maneiras", reiterou Miguel Gomes.

O cineasta declarou que "sobretudo não [se pode] é aceitar a ideia de que numa situação de crise não [se tem] direito a fazer nada, basicamente foi o que disseram, que há que cuidar das coisas práticas e na lista de prioridades criar ficção, contar, não está propriamente no topo da lista".

O filme, que adapta de forma livre o modelo do livro "As Mil e Uma Noites", parte de múltiplas histórias reais que tiveram lugar em Portugal entre 2013 e 2014 recolhidas por um grupo de jornalistas para retratar a sociedade portuguesa no meio da crise social e económica.

Questionado sobre a reação de públicos estrangeiros a uma obra que utiliza tanto atores profissionais como não-profissionais (por exemplo, trabalhadores dos estaleiros navais de Viana do Castelo ou a dona de um galo de Resende colocada em tribunal por este cantar cedo demais) para expor a crise, Miguel Gomes recordou que "obviamente o contexto de mostrar um filme na Alemanha e mostrar um filme em Portugal são coisas diferentes".

"Há uma história chamada 'As Lágrimas da Juíza', que é um longo processo de tribunal, onde se fala de, por exemplo, 'vistos gold'. Na Alemanha toda a gente pensa que aquilo saiu da minha cabeça, ou que todas as semanas há sorteios de carros de luxo organizados pelos impostos, toda a gente acha que isso é absurdo, que é obviamente invenção minha. Aqui não, as pessoas sabem quem é que teve essas belas ideias e portanto riem-se numa outra relação com o país", disse o realizador.

Premiado no festival de Sidney e aclamado pela crítica no festival de Cannes, onde integrou a Quinzena dos Realizadores, "As Mil e Uma Noites" vai ter a sua estreia em Portugal com o primeiro volume intitulado "O Inquieto" a 27 de agosto.

O segundo volume, de nome "O Desolado", tem a estreia prevista para 24 de setembro, enquanto "O Encantado" está marcado para 01 de outubro.

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